Nuno Grande

GULBENKIAN VS. LE CORBUSIER

A aparentemente inusitada fotografia das páginas 418-419 documenta um encontro entre várias personagens: Eusébio, jogador do Benfica (em cima), rodeado por elementos da Selecção de Futebol da República do Iraque, está também acompanhado pelo presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, José de Azeredo Perdigão (em baixo), em pose de inesperado “treinador”. Captada em 1966, a imagem marca o corolário de um notável processo de diplomacia institucional, levado a cabo por Azeredo Perdigão, em prol da concretização do complexo do grande Estádio de Bagdade; tão notável que, para o idealizar e edificar, a Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) se viu obrigada a ombrear com uma encomenda congénere feita anteriormente pelas autoridades iraquianas a Le Corbusier (LC), uma década antes da sua morte.

NUNO ALMEIDA

AQUI NÃO HÁ ORDEM, SÓ ORGANIZAÇÃO

Nas últimas décadas, o êxito da arquitectura holandesa não se ficou a dever (apenas) ao talento dos arquitectos holandeses. Nos anos de 1990, o investimento do Estado holandês na promoção da arquitectura foi amplo e estruturado, não se limitando à valorização de obras singulares que beneficiam escritórios de uma certa dimensão e/ou nome.

Pedro Campos Costa / Isabel Barbas (texto) / André Cepeda (fotografia)

NA TERRA DO FOGO

Construir na cratera de um vulcão é uma façanha destemida. O poder da paisagem parece ser avassalador e não deixar espaço para qualquer forma de arquitectura. Perante esse cenário, o projecto que venceu um concurso público em 2007 para a sede do Parque Natural do Fogo é uma combinação engenhosa de competência e processo.

N.º 250

EDITORIAL

Como se processa a transformação das formas urbanas e do território? A arquitectura integra um sistema de relações complexo, em que a sua expressão construída é como a ponta de um icebergue: não só é difícil aferir a sua escala, como a maior parte da sua massa está submersa.

Pedro Baía

FUNDAMENTALMENTE VENEZA

Um ponto fundamental da actual edição da Bienal de Arquitectura de Veneza é a valorização das práticas de investigação em teoria e história da arquitectura. Isto foi desde logo evidente no repto lançado por Rem Koolhaas quando propôs aos curadores dos pavilhões dos países representados uma reflexão sobre as diferentes assimilações da modernidade ao longo do último século, entre 1914 e 2014. Koolhaas lança a pergunta: até que ponto esta perspectiva histórica tem interesse operativo para a actual prática da arquitectura?

Diogo Seixas Lopes / Joaquim Moreno (Texto) / Valter Vinagre (Fotografia)

A LINHA CLARA

As palavras de Stravinsky parecem ecoar no trabalho de uma nova geração internacional de arquitectos. O trabalho do Fala Atelier também labora nesta nova arquitectura de restrições auto-impostas e formatos de trabalho ditados pela circulação e pela distância. A “linha clara” que esta nova arquitectura define é uma linha de sincronização, ou de paralelismo, entre princípios gerais e factos particulares, entre formatos e aplicações.

GABRIELA TAVARES

ARTEMOVSZK 38

Budapeste é uma cidade animada por uma intensa vida cultural. No entanto, a um observador mais atento não passará despercebida a quase total ausência de espaços de lazer à beira-rio. Esse mesmo observador concluirá, pelos muros altos que separam o Danúbio da cidade e que a defendem das invasões das águas em épocas de cheias, que tal falta se deve justamente a estas últimas, que impossibilitam qualquer projecto de contacto mais próximo e permanente com o rio.

Ivo Poças Martins (Texto) / Nuno Cera (Fotografia)

ESTALEIRO PARA UMA BARCA BRANCA

Num momento em que em Portugal rareiam os grandes estaleiros de obra, a construção da nova sede da EDP na frente ribeirinha de Lisboa é uma excepção. Nos últimos anos, entre Santa Apolónia e Belém tem-se fixado um conjunto de programas de cultura e lazer que propiciam uma nova fruição da Avenida Marginal. Mas nem só de lazer vive o Homem: este edifício torna-se também excepcional por instalar na proximidade do Cais do Sodré novas funções de trabalho e escritórios que prometem uma outra vitalidade para a zona.

André Tavares

CONTENTOR & CONTEÚDO

Os dedos das mãos não são suficientes para contar as instituições candidatas a assumir um papel de relevo na promoção cultural do património da arquitectura portuguesa contemporânea. Entre Porto e Lisboa, universidades e organismos do Estado, arquivos e museus, entidades privadas e fundações, a arquitectura e o seu legado cultural são constantemente convocadas para legitimar acções, financiamentos, programas de investigação e outras ambições muitas vezes surpreendentes.

Paulo Moreira

O EFEITO SEVILHA

A consciência ética dos arquitectos tem pautado o debate disciplinar da arquitectura. As transformações recentes da sociedade têm feito ressurgir essa discussão, sem que o seu sentido seja consensual no seio da classe profissional.