João Soares (TEXTO) + Vasco Célio (FOTOGRAFIA)

A minha cabana

No extremo sudoeste da Europa, na ponta de Sagres, foi construída há pouco tempo uma pequena habitação “à moda antiga”. O autor, arquitecto paisagista de formação, é percebeiro e pescador. A casa, simples, desafia lugares-comuns de alguns temas quentes da arquitectura contemporânea, desde questões de linguagem e de sustentabilidade, à reutilização de técnicas construtivas tradicionais e instrumentos da prática do projecto. Na sua simplicidade, a casa resolve de uma assentada vários dilemas existenciais, sobretudo porque corresponde à materialização transparente dos desejos íntimos do seu dono.

Pedro Baía / Diogo Seixas Lopes (TEXTO) + Jorge Nogueira (FOTOGRAFIA)

As pedras rolantes de Montemor-o-velho

Este ano, Montemor-o-Velho voltou a fazer as festas de Santo António no Castelo. Com o projecto do Percurso Pedonal Assistido quase pronto, o Atlético Clube Montemorense decidiu organizar o arraial junto às muralhas, num terreiro abandonado em frente às ruínas da Capela de Santo António e da Torre do Relógio. O Percurso Pedonal Assistido é uma obra do município, inaugurada pouco depois, com escadas rolantes que vencem a encosta sul da colina até ao Castelo. Santo António chegou primeiro, e a população decidiu experimentar o novo caminho ainda sem os degraus a rolar. Foi, para todos, uma reconquista. Miguel Figueira, responsável pelo Departamento de Urbanismo da Câmara Municipal de Montemor-o-Velho

André Tavares / Marta Labastida (TEXTO) + Nuno Cera (FOTOGRAFIA)

‘Face-lift’ ou viver melhor?

Como tudo na vida, as construções avariam-se. Viver numa “casa avariada” não é bom. Assim vivia grande parte dos 8000 residentes em Vila d’Este, um conjunto de prédios em Vila Nova de Gaia, construído no início dos anos de 1980. Neste momento está em construção a segunda fase da operação de requalificação da envolvente dos edifícios. Uma obra que não só transformou a paisagem urbana como ofereceu aos moradores uma vida com mais qualidade.

TRÊS POR TRÊS, A TERCEIRA TRIENAL DE ARQUITECTURA DE LISBOA

A Trienal de Lisboa deste ano assume-se como um projecto curatorial, mais do que como uma montra para mostrar arquitectura. Procura atrair olhares remotos e falar do perto e do longe, mais do que dar lustro às pratas da casa. O J–A decidiu sondar este perto cada vez mais perto e as suas muitas dispersões, e foi escutar o discurso directo dos seus protagonistas, a sua curadora e o seu produtor, quem inventa e quem faz acontecer. O céu instável de um fim de Primavera e o pátio inclinado de um palacete na Feira da Ladra foram o cenário da conversa.

N.º 248

Editorial

É preciso encontrar a medida certa das coisas. Quando os arquitectos fazem projectos, estão a decidir os termos físicos e funcionais de uma determinada realidade. Caso esta seja executada, importa ter decidido bem. É certo e sabido que, em primeiro lugar, os arquitectos configuram programas e ambições que os precedem, fazem parte de uma cadeia de transformação e produção do ambiente construído. Por isso, não faz sentido imputar-lhes responsabilidades que, enquanto técnicos e prestadores de serviços, não têm. Por outro lado, ao assumirem a coordenação técnica na construção de obras que transformam a paisagem num determinado sentido, estão a ocupar uma posição social de relevo e passam a legitimar processos, quer a montante, quer a jusante da sua própria actuação.

Rui Mendes / João Láia (TEXTO) + Valter Vinagre (FOTOGRAFIA)

‘Resorts’ em ponto-morto

Os resorts tomaram de assalto as grandes herdades do Sul do país. Na região do Alentejo, do litoral ao interior, estão em curso dezenas de projectos para grandes conjuntos turísticos. Entre as tipologias de turismo, o resort é a que permite um programa mais extenso e a conjugação de mais funções na mesma parcela territorial. É um modelo híbrido, entre as economias do trabalho e do lazer, o retiro para congressos empresariais e a prática do golfe, do hipismo e dos desportos náuticos. O Alentejo parece estar a ganhar novos sentidos e possibilidades, particularmente em torno do grande empreendimento do Alqueva.

Pedro Castelo

AUTO ITALIA SOUTH EAST

Hoje, em todas as actividades profissionais, os processos de pesquisa tornaram-se cruciais, mas o seu papel varia substancialmente. Além disso, desde cientistas a políticos, de professores a estudantes, cada um tem uma interpretação distinta do significado de pesquisa e da sua eventual utilidade. Independentemente de a sociedade ser hoje mais diversa ou mais homogénea, podemos afirmar com convicção que o arquitecto contemporâneo tem uma necessidade crescente de defender os seus projectos.

Paulo Moreira / Carlos M. Guimarães (TEXTO) + André Cepeda (FOTOGRAFIA)

A QUIMERA DO TGV

O projecto da Estação Évora-Norte fazia parte de um sonho que, na ausência de consenso, se foi transformando numa quimera. A linha ferroviária de alta velocidade em Portugal, vulgarmente chamada pelo acrónimo TGV, Train à Grande Vitesse, foi amplamente discutida, sobretudo a nível económico e político. Pelo contrário, como não é de estranhar, as suas componentes técnicas e o impacto territorial da megaestrutura não foram alvo de debates profundos, nem de avaliações públicas. Esta marginalização confirma que a arquitectura e a transformação do território tendem a permanecer, não raras vezes, na sombra da decisão política. Projectos mobilizadores de equipas imensas de técnicos e especialistas dependem quase exclusivamente de valores e vontades que escapam ao alcance dos projectistas.

Pedro Levi Bismarck

A TIRANIA DO GOZO

Se há alguma coisa em que os actuais centros comerciais se tornaram exímios foi no modo astuto como aprenderam a trabalhar o que podemos chamar excedente de gozo (o plusde-jouir) do desempenho cénico, algo que a burguesia desde cedo aprendeu a apreciar na grande escadaria oval da Ópera de Paris. Afinal, o verdadeiro centro do edifício de Charles Garnier não era o palco nem a sala, mas a antecâmara onde a nova burguesia recém-chegada ao poder observava e era observada com satisfação e deleite.

Pedro Campos Costa

A HISTÓRIA DO FUTURO*

Sempre houve relações entre a arquitectura e as vanguardas tecnológicas, seja na construção e no estaleiro de obra, seja na configuração do projecto e dos seus modos de representação. Essa presença constante no processo arquitectónico, da concepção à utilização, torna ambígua a fronteira entre os dois mundos, ao ponto de não ser possível distinguir se é a tecnologia que influencia a arquitectura ou se é a arquitectura que domestica a tecnologia, incorporando-a na sua disciplina.