O Arquitecto espontâneo

J-A conversa com Amica Dall e James Binning, Assemble

Num cenário em que os desafios económicos e sociais são cada vez mais complexos, são também cada vez mais os arquitectos que iniciam a sua prática profissional fora de um contexto tradicional de encomenda. Quer isto dizer que iniciam os seus próprios projectos, angariam fundos para os realizar, negoceiam lugares para os implementar e encontram legislação que permita a sua construção. Esta realidade questiona as estruturas tradicionais da prática e do ensino da arquitectura. Fomos ao encontro dos Assemble, um colectivo de dezoito arquitectos, para perceber de que forma trabalham, que métodos usam e se voltarão à escola.

Apresentação

J-A – Estamos a conversar com dois, Amica e James, mas os Assemble são aproximadamente 18 pessoas. Quem são elas?

Amica – Actualmente são Lewis Jones, Alice Edgerley, Fran Edgerley, Maria Lisogorskaya, Louis Schulz, Matt Leung, Joe Riddley, Adam Willis, Amy Perkins, Giles Smith, Holly Briggs, Jane Hall, Paloma Strelitz, Anthony Engi-Meacock, Ellie Headley e Amelia Mashhoudy.

J-A – E onde estão eles?

James – Neste momento, nove estão no escritório a tempo inteiro, mais ou menos. Os outros nove ainda estão a estudar, na verdade talvez 10 ou 12, em escolas de arquitectura espalhadas por Londres. E perdemos um que foi para Nova Iorque, mas talvez regresse.

J-A – Vocês descrevem os Assemble como uma prática colaborativa de artistas, designers, fazedores de arquitectura. Podem falar-nos um pouco sobre vocês e sobre o vosso trabalho?

James – Começámos com um projecto, o Cineroleum. A maioria de nós tinha estudado arquitectura. A nossa origem é essa, e à medida que o projecto se desenvolveu tivemos outras necessidades, e integrámos pessoas como a Amica, com percursos mais especializados, em cinema e programação de eventos. E fomos gradualmente acumulando mais especialistas, produtores e técnicos, desde fazedores de pizzas a pessoas com aptidões manuais, que percebem de electricidade ou de canalização. O Joe tem uma espécie de capacidade de improviso, uma perspectiva alternativa sobre tudo. Mas, na origem, a maioria tem formação em arquitectura.

Amica – Creio que o género de trabalho que temos feito reflecte as competências que temos disponíveis a cada momento. Com frequência, o modo como imaginamos ou pensamos os projectos reflecte os recursos de que dispomos. É uma boa forma de manter uma prática aberta e diversificada.

J-A – Nesse caso, as aquisições de novos elementos fazem-se em consonância com os saberes de que necessitam para cada projecto?

James – Isso funciona mais ou menos nos dois sentidos. No Verão fizemos um projecto em Chichester, o Theatre on the Fly, e sabíamos onde devíamos chegar no momento da estreia, mas não sabíamos o género de artilharia que iríamos ter, nem como liderar uma equipa de pessoas do teatro e os membros da comunidade que nós queríamos envolver no projecto. Juntámos algumas pessoas à equipa, que acabaram por ter um papel muito importante no desenvolvimento do projecto – isto em vez de preenchermos necessidades específicas. Um era muito habilidoso a fazer coisas, outro era bom em escalada, o que se revelou um recurso incrivelmente útil, na medida em que todos os detalhes de revestimento puderam ser trabalhados. Esteve um tempo horrível durante duas semanas e acabámos a fazer trapezismo nos andaimes para fixar guinchos. Portanto, sabíamos o nível de detalhe que conseguíamos atingir, porque passámos a ter um colaborador mais habilidoso do que tínhamos antes. Agora ele trabalha connosco praticamente a tempo inteiro.

Amica – Não tínhamos lugar a tempo inteiro para um alpinista.

James – Acaba por funcionar nos dois sentidos: as pessoas que encontramos acabam, de certo modo, por influenciar o projecto. Penso que é desta forma que a maioria dos projectos se tem desenvolvido. Tendemos a ter uma aspiração, e essa aspiração tende a ser concretizada de um modo particular com as pessoas que trabalham no projecto.

 

Metodologia

J-A – Receberam um financiamento muito pequeno para o vosso primeiro projecto; depois foram contratados por uma instituição do campo das artes; agora estão a trabalhar para uma estrutura governamental. Como fazem para financiar os vossos projectos?

Amica – Começámos com uma bolsa de 2500 libras para o Cineroleum. Honestamente, esse valor não reflectiu o verdadeiro montante do projecto, que foi superior a isso. Arriscámos cobrir alguns custos, e tivemos retorno na venda de bilhetes. Essa forma de economia influenciou o funcionamento do projecto, que teve de ser muito engenhoso no uso dos materiais e no seu tratamento. A ideia era converter uma estação de serviço num cinema. No fundo investimos mais no processo de execução do que nos materiais. Fizemos as cadeiras rebatíveis com placas velhas de andaimes que deixaram de ter uso, e a cortina foi feita de polietileno plissado, Tyvek, que é um material de impermeabilização de coberturas. O lado da tela geralmente usado para o acabamento interior é bastante rico, e o exterior parece papel de alumínio, permitindo evocar reminiscências dos cinemas da época dourada da art déco, e em que estávamos a pensar para este projecto. Acabámos por coser quase três quilómetros de tela.

James – Os três primeiros projectos que levámos a cabo nasceram por iniciativa nossa, no sentido em que tínhamos um lugar e uma ideia a partir dos quais fomos procurar formas de os realizar. Desde então, os nossos projectos têm sido encomendas: somos contactados por um cliente ou um investidor, que tem ou o dinheiro ou a ideia. Na verdade, gostaríamos de fazer agora um projecto que seguisse os moldes de como começámos. A característica-chave desses projectos era o grande investimento na sua execução, era isso que os fazia funcionar realmente bem. Eram visivelmente artesanais e trabalhados intensamente, e praticamente podia ver-se cada aspecto do processo de construção, como as coisas eram montadas. O que temos vindo a tentar fazer é encontrar modos de trazer estas experiências para contextos mais tradicionais, de longo prazo. Foi esse o ponto de partida com que começámos a trabalhar em New Addington, Croydon, onde estamos agora. Penso que ainda estamos a tentar encontrar o ponto certo para tirar partido dessa metodologia.

J-A – Qual é essa metodologia? É algo que estão a investigar através da vossa prática?

Amica – Creio que não existe uma metodologia específica que procuremos investigar. Trata-se mais de olhar para as coisas que foram eficazes, e diferentes, no modo como operávamos nos primeiros trabalhos. Entender que métodos terão de ser usados para beneficiar dessas qualidades num contexto mais tradicional. Aqui em New Addington, por exemplo, o enunciado era estar no próprio lugar alguns dias por semana, fazer um trabalho de âmbito público e terminá-lo com um conjunto de eventos capaz de trazer as pessoas para fora de casa e de as pôr a utilizar a praça e a cidade. Tendo em conta o modo como tínhamos trabalhado anteriormente, propusemos inverter o projecto: dar primazia aos eventos, utilizá-los como um meio de trazer as pessoas para a rua, para pensar e usar o espaço com intensidade. Em parte isso foi uma forma de investigação, e nós aprendemos, e investigámos aquela área – quem ali estava e quem poderiam ser os utilizadores –, descobrindo as pessoas que dificilmente iriam a uma consulta pública promovida pela câmara. Usámos esses eventos como protótipos de algumas ideias que surgiram durante o primeiro mês em que estivemos aqui. E construímos os protótipos no lugar. Mais uma vez, num modo de trabalho manual intensivo. Construímos intensamente durante um período de duas semanas, pela noite dentro, à chuva… Todo esse processo atraiu pessoas que vieram falar connosco e tornou-nos muito visíveis, talvez um pouco cómicos. Foi bastante envolvente, e quando os eventos finalmente aconteceram já havia um ímpeto. Mas o processo também conduziu à regeneração real daquele pequeno troço de rua. Foi dessa forma que procurámos aprender a partir de um trabalho efémero.

J-A – Parece que uma componente importante deste projecto era materializar esses eventos.

Amica – Sim. A semana do evento serviu para fazer protótipos dos projectos, mas serviu também para trazer as comunidades e as suas actividades, que são fantásticas, para o exterior e torná-las públicas. Testar os projectos era bastante secundário em relação ao carácter público das actividades. Do que mais gostei foi do modo como trabalhámos as coisas, da forma como decidimos o que o palco tinha de ter e onde seria localizado. Não se tratou necessariamente de falar com as pessoas acerca do que elas queriam que nós fizéssemos com o centro do seu bairro, mas de falar acerca daquilo de que elas necessitam, por exemplo, para fazer acontecer um evento de cães numa terça-feira 18 de Dezembro. Assim, estávamos a falar de coisas específicas. E isso ajudou-nos a desvendar as condicionantes efectivas de uma forma mais rápida e de um modo mais directo do que se as abordássemos unicamente através do desenho.

James – Penso que essa estratégia nos deu argumentos muito persuasivos, pelas propostas que estávamos a desenvolver. E estar no lugar dois dias por semana foi, em muitos aspectos, uma grande vantagem, porque tínhamos pessoas constantemente a entrar-nos pela porta e a comentar o nosso trabalho, dizendo coisas do tipo: “Sei que vocês são os arquitectos e tal, mas eu tenho estas boas ideias”, ou “ponham um grande quadrado de tijolos com uma árvore no meio”. Portanto, interessava sermos capazes de apontar para os factos físicos que ocorreram e perguntar: “O que achas disto?” Sermos capazes de demonstrar o uso das coisas. Os Pathfinders, um grupo comunitário com quem estávamos a colaborar e a partilhar escritório, costumavam designar essa estratégia como “try before you buy” [experimenta antes de comprar].

J-A – Por alguma razão, não tiveram uma estratégia tradicional de participação pública. Desenvolveram a vossa própria. Qual o motivo?

James – Na verdade, penso que por várias razões. Uma foi a aprendizagem que tivemos no projecto Folly for a Flyover. O que nos torna diferentes de quaisquer outros, apesar de alguma falta de experiência, foi termos tido aquela ocasião para programar actividades num espaço e, assim, tentar mudar a percepção do lugar através de acontecimentos… Nós não éramos capazes de oferecer uma abordagem mais tradicional, para isso haveria pessoas mais bem posicionadas.

Amica – A nossa posição é um pouco céptica em relação ao que se pode aprender através de formas tradicionais de consulta e envolvimento público. Sentíamos que havia muito para aprender sobre este lugar: a praça, que é realmente o centro da cidade, como era, do que precisavam as pessoas, onde estavam os problemas… Sentimos que queríamos aprender mais do que nos seria possível através de coisas como inquéritos ou assembleias públicas a envolver a população. Penso que o método se revelou cada vez mais apropriado, e começámos a perguntar-nos verdadeiramente qual seria o nosso ponto forte, que pudesse ser adequado para aqui. Nos primeiros meses, enquanto o estávamos a desenvolver, tornou-se cada vez mais óbvio que esse era um modo produtivo de prosseguir. E a ambição alargou-se.

 

Colaborações

J-A – Estamos a fazer esta entrevista no Octagon, um lugar que é parte do centro comunitário de New Addington. Querem falar-nos um pouco acerca do processo de colaboração que têm desenvolvido aqui?

Amica – O Octagon era um sanitário público, depois foi transformado num cibercafé e, recentemente, passou a ser a sede dos Pathfinders, um grupo comunitário que funciona como uma espécie de embaixada da população de New Addington no município, gerindo as iniciativas da comunidade com vista a melhorar a cidade. Quando o projecto foi concebido pelo município de Croydon, os Pathfinders acharam que era boa ideia estarmos aqui em residência alguns dias por semana; eles escolheram este lugar e nós acabámos por trabalhar aqui a tempo inteiro durante os primeiros seis meses. Este espaço também funciona como um centro social temporário, não específico, para pessoas com problemas que os Pathfinders possam eventualmente apoiar: recolhas de lixo, iluminações de rua avariadas, crianças mal-comportadas, e por aí fora. Em boa verdade, é bastante interessante tentar fazer o trabalho de um escritório tradicional a partir do átrio de um centro social, exposto às preocupações do dia-a-dia das pessoas que aqui vivem, mas também expondo-se a elas.

J-A – Transportar o escritório para o local onde estão a trabalhar é algo que façam com frequência?

Amica – O nosso próximo projecto deste género é em Harrow, e esforçámo-nos bastante por fazê-lo… No início, a ideia era mudarmo-nos para lá, mas acabou por ser mais complicado. Penso que da próxima vez vamos tentar repetir esta situação, se for possível. O nosso estúdio é, na verdade, um espaço de residência artística financiado pela LLDC [London Legacy Development Corporation]. Estamos lá desde 2011. Fazemos investigação e projectos com a LLDC naquela área. E o estúdio é, ele próprio, um projecto. Fizemos um escritório e uma oficina, a partir dos quais executamos todos os nossos projectos. A parte da frente é um espaço público, criado para colmatar a completa falta de comunidade pública naquela zona, que está num momento de transição entre um antigo uso industrial e um programa residencial interrompido pela queda de preços no sector imobiliário do início dos anos 2000, mas também pela especulação e desilusão causadas pelos Jogos Olímpicos, e pelo efeito de distorção que os Jogos tiveram no mercado da habitação. Suponho que há uma carência de espaços sociais, se não contarmos com o McDonalds, as igrejas ou os supermercados. E por isso abrimos um cinema, um pequeno restaurante… E conseguimos fazê-lo lá.

J-A – Isso foi uma troca com a LLDC?

Amica – Quando acabámos o Cineroleum demo-nos conta de que ficámos com um cinema. Temporariamente fomos distribuindo as peças por Londres, nos sótãos e caves de amigos, mas rapidamente contactámos diferentes entidades e organizações do campo das artes e perguntámos: Querem isto? Imagino que a LLDC se tenha perguntado o que fazer com aqueles edifícios industriais desactivados para os quais ainda não havia perspectivas de utilização. Eles responderam ao nosso e-mail, que lhes tinha sido reencaminhado por alguém, e levaram-nos a visitar alguns desses edifícios. Entretanto a nossa actividade cresceu e mudou bastante. Nos doze meses seguintes fizemos o Folly for a Flyover e começámos a ter propostas para outros trabalhos, o que significava trabalho a tempo inteiro. O que originalmente começou como ideia para uma instalação, que consistia em sermos nós a oferecer o cinema que alguém iria gerir, acabou por se tornar num projecto de envolvimento.

J-A – Mas tem um prazo de validade.

James – Em algum momento terá de acabar, mas isso não está totalmente definido.

Amica – Entre três e quinze anos.

 

Aprendizagem

J-A – No vosso escritório há dias de “crítica” em que toda a gente traz as suas próprias propostas: dividem-se em grupos… Isso parece-se muito com uma escola.

Amica – Isso foi como trabalhámos no Folly for a Flyover. Não voltámos a utilizar esse método. Mas temos tentado reproduzir o lado bom do trabalho num ambiente escolar, que é ter muitas pessoas a ouvir e a pensar nas tuas ideias…

James – Provavelmente é apenas aspirar a um determinado processo de trabalho. É tentar replicar as qualidades da escola – o que quer dizer que continuamos todos a aprender e a ter ocasião de testar e escrutinar ideias. Ainda não encontrámos a forma ideal de o fazer, porque é um processo de trabalho difícil.

Amica – É complicado porque muitas das coisas que o tornam difícil são também as coisas que o tornam interessante. O que é necessário é procurar encontrar um equilíbrio, e ainda estamos a trabalhar nisso. Penso que uma coisa realmente positiva nesse diálogo é não ser necessário começar imediatamente a desenhar.

J-A – Vocês também desenvolveram sistemas de aprendizagem dentro dos vossos próprios projectos, como no caso de New Addington. Encaram essa prática como uma alternativa a um ambiente de ensino mais convencional, como o que se pratica na universidade, por exemplo?

James – É de certa maneira uma ambição, penso eu, experimentar e criar essas oportunidades. Nos projectos autoconstruídos foi obviamente mais fácil, tínhamos mais controlo sobre o que essas oportunidades poderiam ser.

Amica – Eu não pretenderia nada tão ambicioso como substituir uma educação formal. Muitas das coisas que estamos a tentar fazer não estão necessariamente focadas em pessoas que estejam num processo de educação formal. É uma espécie de aprendizagem autoconsciente. A ideia é ter um interesse mais geral pelo modo como o ambiente está a ser transformado e entender como nos podemos envolver nessa transformação.

James – É sempre difícil falar em nome de todos quando somos dezoito. Sinto que o modo como trabalhamos é uma alternativa a estar na escola, mas não quer dizer que trabalhar seja uma coisa oposta a estar na escola. Estamos a tentar cultivar diferentes oportunidades e processos, aos quais não tens acesso se estiveres numa aprendizagem arquitectónica normal.

J-A – Pensam em voltar à escola?

Amica – Eu nunca frequentei uma escola de arquitectura, portanto não vou voltar. A Alex, por exemplo, estava a conversar com ela sobre isto na semana passada, e ela dizia que talvez possa voltar à escola, mas só daqui a dez anos ou coisa parecida. Da maneira como vocês falam sobre o assunto, parece que não dão valor ao processo de educação formal, que não é necessariamente produtivo. Pelo menos para fazer do princípio ao fim.

James – Tendo em conta o ritmo de aprendizagem, as oportunidades que temos em cada projecto e o facto de estes serem guiados pelos nossos interesses, tudo isto por si só significa que estamos a aprender muito a toda a hora. Quem sabe se não haverá um momento em que possamos ser dispensados das entregas, das relações formais com clientes, dos orçamentos e de todas essas coisas… Nós estamos ausentes da primeira parte do processo de educação, em que se desenha com uma espécie de contexto mas sem muitas condicionantes reais. Imagino um momento em que seria muito útil sermos capazes de reavaliar os processos de aprendizagem, o modo como se aprende a pensar e a trabalhar nestes projectos, e dar um passo à retaguarda no processo projectual e na forma como actuamos agora. Possivelmente, dessa forma seríamos capazes de retirar muito mais daquilo que estamos a fazer agora.

Amica – Creio que há alguma coisa fantástica no fazer projectos, na ideia de aprender através do trabalho – embora isto possa parecer um bocadinho condescendente. Penso que é realmente espantoso abordar um projecto e estar disponível para aprender coisas novas. Desse modo, é provável que consigamos evitar repetir alguns erros, e talvez nos tornemos um pouco mais críticos relativamente ao que fazemos. Não fazer apenas coisas que já se sabe fazer, que é o que acontece muitas vezes a pessoas que trabalham em escritórios a tempo inteiro: limitam-se a percorrer os caminhos que já conhecem, convencem-se de que a forma como fazem as coisas é a melhor.

 

Colectivo

J-A – Sentem-se a fazer parte de uma geração? Não sei se se poderia chamar movimento, mas… sentem existir um contexto geracional para o vosso trabalho?

Amica – Sim, claro. O Cineroleum não surgiu do nada. Havia outras pessoas a fazer coisas do género.

James – Não estamos sozinhos.

Amica – Creio que um dos motivos pelos quais o Cineroleum teve tanta atenção da crítica foi por ter sido lido como representativo de um conjunto de coisas que estavam a ser feitas ao mesmo tempo por muita gente. Tornou-se um pequeno ícone, no qual se concentraram muitas coisas diferentes. Pensar na nossa prática de forma isolada não faz qualquer sentido.

James – Havia o Frank’s Cafe em Peckham, que foi feito pelos Practice Architecture, com quem tínhamos estudado antes do Cineroleum e isso foi…

Amica – Inspirador…

James – Sim, foi. Foi incrível o modo como aquelas pessoas conseguiram encontrar clientes suficientes para conseguir construir e gerir aquela estrutura, que era bastante impressionante. Suponho que a pergunta que nos têm feito com mais frequência depois do Cineroleum é: O que é que fez o Cineroleum acontecer? Constantemente há pessoas a pensar em fazer projectos, e eu penso que para nós foi importante ver que alguém já o tinha feito antes. Nós não estávamos a ser pioneiros em nada.

Amica – “Se aquele fez, tu também consegues…” É como uma longa cadeia… Mas aquele provavelmente viu outros quaisquer, provavelmente os EXYZT, e disse: “Se tu consegues fazer…” É uma comunidade… Basta olhar para as pessoas com quem somos convidados a falar, ou para as pessoas com quem trabalhamos no Folly for a Flyover, e vês que estamos todos a fazer coisas um pouco diferentes, a travar combates ligeiramente distintos, mas certamente muitas pessoas à nossa volta estão a tentar fazer coisas de uma forma talvez similarmente diferente.

 

Este artigo foi publicado no J-A 247, Mai — Ago 2013, p. 138-145.

Assemble é uma plataforma de colaboração de artistas, designers e fazedores de arquitectura com sede em Londres.

Londres, 25 de Fevereiro de 2013.
Conversa conduzida por
Mariana Pestana.
Fotografia e vídeo:
Pedro Lino.
Transcrição:
Daniel Duarte Pereira.