MATERIAIS: PRODUÇÃO, LABORATÓRIO, OBRA

J–A conversa com Ângela Nunes, Nelson Cristo, Tânia Teixeira e Nuno Grenha

Pensamento e construção consumam a tarefa elementar de juntar a matéria. Os materiais constituem um património da arquitectura e dão corpo à sua força enquanto expressão, forma e significado. Matéria-prima, processamento e transformação são operações que permitem aferir em que pé se encontram hoje as empresas que fabricam e comercializam o que dá substância à arquitectura. Fomos ao encontro dos engenheiros Ângela Nunes (Secil) e Nelson Cristo (Cevalor – Centro Tecnológico da Pedra Natural de Portugal) e dos arquitectos Tânia Teixeira e Nuno Grenha (Telheiro da Encosta do Castelo, Oficinas do Convento). O que é que a indústria espera e deseja dos arquitectos? Com que olhos vê actualmente o seu negócio?

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LABORATÓRIO / PRODUÇÃO

J–A Quais foram os principais ajustes efectuados pelas vossas empresas para enfrentar esta época, em que parou quase toda a construção em Portugal?

SECIL Foi muito amargo passar de um período áureo da construção para esta situação, mas não podemos continuar com um pensamento pessimista. Temos de olhar para o futuro com ânimo, com perspectiva, e também temos de perceber que muito daquilo que fizemos neste país foi pouco reflectido. As equipas de engenheiros e arquitectos são ganhadoras. Sempre foram. Os engenheiros são muito pragmáticos, foram preparados para a resolução de problemas; enquanto os arquitectos têm uma visão de espaço, sensorial, mais ligada à percepção daquilo que é a necessidade de conforto e bem-estar das pessoas. É esta dupla visão e o trabalho em equipa que potencia a indústria. Darei dois exemplos que ilustram bem a questão: quando o arquitecto Eduardo Souto de Moura nos desafiou para o estudo de um edifício que estruturalmente tinha de ser em betão, mas com um acabamento exigente, com uma textura e cor especiais, fomos para o laboratório vencer as dificuldades da obra em causa. Quando o arquitecto João Luís Carrilho da Graça nos disse: eu tenho um edifício com enormes cargas, em que temos de aligeirar o peso sem que isto comprometa o seu aspecto monolítico, contornámos o desafio com o desenvolvimento de um betão branco com cortiça.

OFICINAS DO CONVENTO Desenvolvemos actividades com várias disciplinas e não nos dedicamos exclusivamente ao trabalho com materiais de construção, mas podemos afirmar que tivemos tijolo e tijoleira de fabrico artesanal que se vendia com facilidade, e hoje isso não acontece. A nossa produção consistia em produtos por medida, ou seja, eram muito específicos, porque existia grande facilidade em adaptar moldes e adequar o processo à encomenda. Perante a crise tivemos de reinventar processos artesanais, criando outros produtos que têm de dar resposta a uma série de preocupações emergentes. Actualmente tem de se conseguir fazer tão bom como se fazia antes, daí termos virado muita da nossa investigação para produtos de terra crua, como por exemplo os blocos de terra comprimidos (BTC), entre outros. Resgatar técnicas tradicionais é uma constante do trabalho das Oficinas do Convento, onde o arquitecto tem um papel importante. Isto é feito a par com uma investigação científica rigorosa e com colaboradores na parte da engenharia civil que nos ajudam a investigar a matéria-prima, que é um domínio fundamental para fazer um bom produto.

J–A A crise retirou a estabilidade que existia na indústria e obrigou a uma acção mais sistemática e rigorosa. Na cadeia de produção, a Cevalor tem uma participação ligeiramente diferente, uma vez que não produz materiais.

CEVALOR A crise impôs um paradigma para o qual não estávamos preparados. Fez repensar completamente a nossa estrutura e incitou a uma inflexão dirigida à internacionalização, com especial incidência para os países de língua oficial portuguesa com recursos geológicos, nomeadamente Angola, Moçambique e Timor. Identificamos um enorme distanciamento entre a indústria e o consumidor final, e sentimos que essa aproximação é cada vez mais importante. A Cevalor tem estado a reestruturar os seus serviços para proporcionar esse tipo de apoio, no sentido de conseguir apoiar as empresas ao nível do produto, da optimização de processos, de fazer o mesmo com menos, fazer melhor com menos, de ter preocupação em incorporar questões ambientais e os rótulos europeus relacionados com o desempenho ambiental do produto. Desde há muito tempo que sentimos alguma dificuldade de relacionamento com os arquitectos, mas, felizmente, nos últimos três anos temos sentido o oposto. Isso é fruto da nossa relação próxima com as universidades e com os profissionais que estão a ser formados agora e que, no futuro, vão prescrever este ou aquele material de construção.

J–A No caso do Telheiro da Encosta do Castelo, como é que o facto de serem arquitectos alterou o trabalho que estava a ser produzido nas Oficinas?

OFICINAS Desencadeou a diversificação de produtos e modos de aplicação. Essa é a nossa preocupação. Com isso, veio por arrasto uma série de disciplinas que foram capazes de acrescentar inovação. Saímos do molde cozido com lenhas do corte da poda das oliveiras, tudo ainda feito com os preceitos da forma antiga, para utilizarmos reciclados de toda a ordem na cozedura e incorporados na própria receita de fabricação dos materiais. O propósito do Telheiro é conseguir apetrechar-se para receber quem tenha vontade de investigar e experimentar. Este é o nosso negócio, abrir a porta para dar oportunidades de aprendizagem. Enquanto estudante nunca tive oportunidade de entrar em empresas, de participar, de ter um pequeno estágio intermédio. O Telheiro é uma oficina para quem tem vontade de dar forma a essas ideias. É uma atitude muito pragmática de fazer dando corpo àquilo de que se fala.

J–A Neste momento estão a construir um núcleo destinado aos BTC, ou seja, vão ter dois edifícios distintos, um destinado à produção de BTC e outro para a experimentação dos alunos de Belas-Artes, que realizam uma investigação diária com contributos que são posteriormente aproveitados para as peças que vocês produzem.

OFICINAS É um momento crucial. Está a ser construído o laboratório físico-mecânico. É destinado às pequenas coisas do dia-a-dia, uma vez que podemos utilizar os laboratórios da Universidade de Évora ou do ISCTE para fazer testes mais exigentes. A terra é um material muito difícil de dominar, varia de lugar para lugar. O acompanhamento das equipas técnicas é muito importante para adequar as respostas à natureza das matérias-primas.

PADRONIZAÇÃO

J–A A produção padronizada viabiliza a indústria. Hoje em dia, na construção corrente, praticamente não há produtos fora de cadeias industriais. Como é que, ao nível da produção, encaram a padronização e o desenho “à medida”?

SECIL O cimento tem sempre produção padronizada, a aplicação é que pode não ser. E é aí, ao dominar a aplicação e a sua utilização, que podemos fazer a diferença. Há muitos produtos de cimento acabados, pré-fabricados, que podem e devem ser standard, uma vez que isso representa uma enorme economia na produção. São produtos que têm um formato fechado, resultante de uma evolução, e que são usados em todas as construções todos os dias, por exemplo tubagens e manilhas. Mas além desses produtos é tudo trabalhado obra a obra. No entanto, há sempre a hipótese de aquilo que numa primeira utilização não é padronizado vir a ser padronizado para utilizações posteriores. Isto faz parte da evolução.

OFICINAS Em relação aos materiais artesanais, a questão é que quem os procura é precisamente quem procura uma solução não-padronizada. Aquilo que se pode oferecer é uma solução feita por medida em que os arquitectos e designers podem participar no desenho de uma solução para um determinado projecto que se executa até ao mais ínfimo pormenor.

J–A Mas as Oficinas do Convento têm duas áreas de trabalho: os tijolos e tijoleira construídos artesanalmente, um a um, e os BTC.

OFICINAS Sim, nesse caso a produção obedece a padrões. Para a produção padronizada em terra crua procuramos seguir uma normativa inexistente em Portugal, que tentamos colmatar aplicando a normativa espanhola e a europeia. Quanto à terracota, os materiais são encomendados e produzidos à medida.

CEVALOR O sector dos materiais de construção é fortemente exportador, e há mercados emergentes com um crescimento muito assinalável. A procura de padronização existirá sempre; no entanto, as empresas que se encontram mais bem posicionadas são as que mais rapidamente assimilaram a mensagem de que o standard é sempre um mal necessário, visto que não se produz para stock. A padronização é um mal necessário porque não é aí que está o valor acrescentado; o valor está no produto e na sua capacidade de se adequar à medida de cada obra. Cada obra é uma obra.

J–A A padronização dos materiais de construção parece não ter vingado. Tomou-se como um método possível para construir em quantidade, mas esbarrou sempre nas práticas de construção, que são tudo menos padronizadas. O desfasamento entre os saberes construtivos e a cadeia de produção de materiais parece ser enorme. Entre o fascínio da construção em laboratório e a sua concretização, parece ser necessário esperar por uma evolução. É o que está a acontecer?

SECIL O facto de ser padronizado, ou de cumprir uma norma, é uma garantia de qualidade de que ninguém prescinde. Quando avançamos para uma adição ao betão, procurando alterar pequenas coisas que podem fazer toda a diferença num produto já homologado, o cumprimento das normas tem de ser assegurado. Esse é que é o grande desafio. A grande mudança deste período de crise foi ter-nos levado a pensar que temos de fazer mais com o mesmo. A padronização pode ter muitas caras, o que parece ser standard pode ter novas funcionalidades, aspectos, texturas e cores.

CEVALOR Nas matérias-primas que trabalhamos no nosso sector, os produtos padronizados são entendidos como produtos de stock. A grande contribuição para a valorização está na peça por medida. Este é um sector (matéria-prima) vinculado às exigências de cerca de 115 mercados (para onde exportámos em 2013), e, por isso, uma das preocupações, seja na padronização, seja na obra por medida, é a sua normalização e certificação.

EXPORTAÇÃO

J–A Em muitos contextos, a arquitectura portuguesa é reconhecível. Isso também sucede com os materiais e a sua produção?

SECIL Actualmente, temos taxas de exportação que nunca tivemos. Além disso, estamos em várias geografias – no Brasil, no Líbano, na Tunísia, Angola, Cabo Verde. A meu ver, em geral, os produtos portugueses estão muito bem qualificados no mercado internacional. A legislação europeia é muito exigente, mas isso confere uma garantia superior no momento de disputar um cliente com outro país não-europeu. Se, a montante, isto implica mais custos (regulamentação, investigação, controlo de qualidade, etc.) e significa que produzimos um pouco mais caro (com custos de mão-de-obra superiores aos praticados noutras partes do mundo), também permite reivindicar rótulos e a qualidade dos padrões europeus. Presentemente, estamos a fornecer cimento para uma obra na Venezuela: levamos cimento da fábrica do Outão para a Venezuela, a fim de assegurar que a execução da obra não vai falhar. Há cimento muito mais perto, mas escolheram o nosso produto para assegurar a qualidade de execução da obra. Isto demonstra que a nossa imagem corporativa no exterior é muito positiva.

J–A Para as obras fora de Portugal, é exportado cimento ou extraem matéria-prima local?

SECIL Temos fábricas em alguns destes lugares. O clínquer vai de Portugal para ser moído in loco. Mas noutros países, como no Líbano ou na Tunísia, produzimos tudo lá, exportamos apenas o nosso know-how. Existem vários níveis de actuação, sendo a componente de exportação de competências muito importante, é valor que também entra no país.

CEVALOR A promoção da pedra portuguesa no mercado global é uma missão conjunta da Cevalor, da Assimagra e da Aniet. Tradicionalmente, o sector exporta 75% daquilo que produz. O mármore, por exemplo, exportava mais de 80% da produção, em bloco ou processado. Neste momento, a grande moda são as cores uniformes, daí que a zona central entre a Batalha e Leiria esteja em crescimento. No entanto, há empresas que exportam 99,9% daquilo que produzem. No mercado de produção e exportação de pedra natural, Portugal ocupava em 2013 o sétimo lugar a nível mundial, tendo como principais destinos mercados muito exigentes e sofisticados, com a França e a Alemanha. Este reconhecimento está a ser consolidado através da disseminação da marca Stone.pt, a marca da pedra natural portuguesa.

OFICINAS A nossa exportação é em termos de conhecimento, de aplicação da matéria terra. Acabámos agora de conduzir um workshop internacional em que vieram estudantes de todos os pontos do mundo para aprender a trabalhar em BTC. Actualmente, há um esforço internacional para normalizar tanto os produtos em terra como a sua aplicação.

J–A Não existem normas?

OFICINAS Quanto à aplicação, não. Está a construir-se esse enquadramento para as várias tipologias de produtos e de técnicas. Já existem normas para alguns produtos de terra.

J–A Qual o panorama internacional neste momento?

OFICINAS Na América Latina e na Índia existem centros de investigação enormes; a França tem um centro de estudos muito grande; e em Portugal também surgiu um há alguns anos. É um processo muito lento, focado na tentativa de pôr este tipo de materiais a par de outros, não defendendo ser melhor ou pior, apenas para ser mais um recurso e mais uma opção, muitas vezes combinando cimento, cal, pedra e reciclados de obras.

FINANCIAMENTO

J–A Existem financiamentos para o desenvolvimento de materiais de construção. Quais são os apoios que podem ser usados?

SECIL Felizmente, temos uma boa parte dos nossos projectos financiados pelo QREN nacional, mas também já participámos em projectos europeus com parceiros que não foram tão bem sucedidos. Agora há novas organizações e vamos ver como é que este novo programa se vai desenvolver para chegar às pequenas e médias empresas, o que será muito importante para potenciar as nossas valências. Estes apoios são importantíssimos, mesmo uma empresa como a Secil não tinha meios para investir sozinha, num momento de crise. Com as dificuldades que surgem na investigação e no desenvolvimento, se não houvesse um suporte não haveria investigação.

CEVALOR Muita da nossa actividade depende desses apoios. Esperamos boas notícias, porque o nosso trabalho é muito dirigido às empresas, para a formação e para a investigação aplicada. As medidas, a nível nacional e internacional, são positivas, porque a política da União Europeia já é muito voltada para as matérias-primas. Isso teve reflexos nos planos de acção regionais e nacionais. Se não houvesse estas medidas, era impossível fazer-se qualquer plano de desenvolvimento em tempo de crise. Mesmo fora do tempo de crise, estes apoios permitem ir mais além e ser-se expansionista na forma de investigar.

OFICINAS Felizmente, temos o apoio das universidades, que encaminham estudantes em fase de mestrado e em trabalhos de investigação relacionados com a arquitectura de terra. E há um número cada vez maior de interessados. Há financiamento para as artes plásticas, mas para a investigação dos materiais ainda não foram encontrados programas a que se possam candidatar os projectos desse âmbito. O retorno que adquirimos com o nosso esforço é ter sempre um trabalho melhorado. Há arquitectos, engenheiros, designers a investigar diferentes formas de aplicação, tipologias de blocos, tijolos, etc.

CEVALOR No que toca à transferência de conhecimento a nível nacional e internacional, vamos abrir a Academia Nacional da Pedra Natural, em parceria com a Universidade de Évora e o Instituto Politécnico de Portalegre. Todas as actividades, sejam elas de licenciatura, mestrado, doutoramento ou de outras dinâmicas complementares relacionadas com a pedra natural, vão estar centralizadas nesta academia universitária. Queremos, daqui a alguns anos, tornar este pólo um local de excelência para quem quiser saber sobre pedra natural e sobre as tecnologias que a acompanham – isto para arquitectos, designers, geólogos.

SECIL Nós não fazemos formação per se, mas temos as portas abertas; sempre tivemos as portas abertas para os arquitectos que querem pôr a mão na massa, ir até ao laboratório e ver qual é a cor, a textura, o efeito. Isso tem alguns custos, mas tem também muitos benefícios e faz parte das nossas funções. É um serviço que prestamos.

FUTURO

J–A O filme In Comparison, de Harun Farocki, apresenta-nos a disparidade da indústria material contemporânea. Por um lado, em várias zonas de África a construção continua a ser totalmente em terra; por outro lado, na Alemanha ou na Suíça, exploram- -se novos materiais sintéticos que são aplicados no Dubai, em arranha-céus com luxos materiais inimagináveis. Não estando Portugal nem de um lado, nem do outro, e partindo da ideia de que o modo como construímos o mundo é significado e significante da nossa cultura e capacidade económica, como é que enquadram o futuro da construção portuguesa?

SECIL Nós, portugueses, sempre tivemos uma grande qualidade: facilidade de adaptação. Temos de conseguir ser suficientemente versáteis para responder da melhor maneira a esta panóplia de problemas, temos de o fazer da forma mais sensata e em função das situações. Temos de conseguir aprofundar o nosso nível de conhecimento em alta tecnologia e não perder a nossa componente histórica, o saber fazer dos nossos antepassados – porque muito deste conhecimento perde-se, ou já se perdeu, e é muito importante voltar a adquiri-lo. Falo por nós, no betão. Há alguns anos, o betão aparente estava totalmente posto de lado, ninguém queria trabalhar com ele. Tivemos de partir do início, de explorar tudo de novo, com um novo desenho, refeito de modo a poder responder às novas solicitações de betão aparente. O que acho importante é conseguirmos ser os fiéis guardiões de um conhecimento antigo da construção, mas também sermos capazes de nos manter suficientemente a par das novas tecnologias. Com a nossa capacidade e flexibilidade, vamos certamente ter espaço, sobretudo ao nível do know-how e do projecto; os materiais e a obra feita hão-de vir a reboque. Daí que as empresas portuguesas de construção tenham tido procura no estrangeiro. Não é por acaso. É porque sabem manter essa capacidade de adaptação à cultura que vão encontrar, levando um conhecimento que se adapta ao local. Se nos conseguirmos manter no topo do conhecimento e associar, no momento certo, a alta tecnologia às pequenas coisas simples que podem fazer a diferença, isso será óptimo. E permitirá preservar tudo o que é antigo e deve ser protegido.

OFICINAS Concordo inteiramente. Não me quero ver em nenhum dos extremos do filme do Farocki.

SECIL Nem eu, mas temos de reconhecer os dois opostos. Temos de ter as duas valências, pessoas preparadas para lidar com uma e com a outra. Temos de ser capazes de fazer o edifício do Dubai, mas também de reabilitar uma mesquita importante no Norte de África, construída em terra. Temos de saber reconhecer isso. Porque os alemães e os suíços têm a melhor tecnologia, mas podem ter dificuldade em fazer o resto. O nosso lugar no mundo talvez esteja aí.

 

Este texto foi publicado no J-A 251, Set — Dez 2014, p. 476 – 481.

Lisboa, 5 de Novembro de 2014. Conversa conduzida por Rui Mendes e Luís Ferro.