J–A conversa com Beatrice Galilee e Manuel Henriques
A Trienal de Lisboa deste ano assume-se como um projecto curatorial, mais do que como uma montra para mostrar arquitectura. Procura atrair olhares remotos e falar do perto e do longe, mais do que dar lustro às pratas da casa. O J–A decidiu sondar este perto cada vez mais perto e as suas muitas dispersões, e foi escutar o discurso directo dos seus protagonistas, a sua curadora e o seu produtor, quem inventa e quem faz acontecer. O céu instável de um fim de Primavera e o pátio inclinado de um palacete na Feira da Ladra foram o cenário da conversa.
CONCURSO
J–A Qual a necessidade de lançar um concurso público internacional para a curadoria desta Trienal?
Manuel Entendemos que, para esta terceira edição da Trienal, era necessário alcançar uma expansão internacional. Na primeira edição, o José Mateus foi uma espécie de director/curador, na segunda edição foi nomeado o Delfim Sardo. Desta vez pensámos: “Vamos fazer um concurso em vez de nomear alguém.” O grande objectivo era gerar uma presença internacional.
J–A Será este o primeiro passo de uma nova “tendência”? A trienal irá prosseguir com esta estratégia?
Manuel Sim, queremos continuar a expandir a presença internacional da Trienal, embora isso não signifique recorrermos sempre ao concurso. O objectivo é fazer um evento cada vez mais alargado, um incentivo para a arquitectura portuguesa e uma referência no contexto internacional.
J–A O que tornou o projecto da Beatrice o grande vencedor?
Manuel Creio que foi aquele que quebrava ideias preestabelecidas de como expor arquitectura. O projecto da Beatrice era inventivo, fresco e uma novidade. Percebemos imediatamente que iria suscitar novas ideias e colocar outras questões no contexto português. Para o júri, foi unânime, embora tivéssemos recebido projectos muito interessantes de outros candidatos. Recebemos cerca de vinte propostas.
J–A Beatrice, porque é que o teu projecto foi o vencedor? O que é que o diferenciou?
Beatrice Quando concorri já tinha feito duas bienais, uma na China e outra na Coreia, e tinha começado a minha própria galeria em Londres. Estava plenamente convicta de ter desenvolvido, e de continuar a desenvolver, um modo próprio de “expor arquitectura”. Senti ter experiência para fazer alguma coisa, mas também tinha uma equipa jovem com uma perspectiva arejada sobre um resultado possível, que poderia ser bastante original, coisa que tenho procurado no meu próprio trabalho. Sabia que a nossa proposta traria algo a que aspiravam, algo internacional e original, e algo que seria muito importante para a própria Trienal. Fiquei muito feliz com a juventude da equipa, e eu ainda sou relativamente jovem…
PROJECTO PÚBLICO
J–A Envelheceste nos últimos meses?
Beatrice Envelheci nos últimos 18 meses [risos]. Cheguei com uma ideia bem definida, mas não vim com coisas que queria expor ou com nomes que deveriam compor a exposição. Como equipa, temos uma postura muito concreta e um projecto conjunto que vai para além das ideias que queremos mostrar e da forma como as exibimos. É mais como uma investigação, uma experiência constante, muito orientada para uma consciência e experiência de grupo.
J–A Close, Closer… do quê?
Beatrice De certa forma o título é bastante evasivo. É uma espécie de alusão, e muitas pessoas projectam as suas próprias ideias sobre o que queremos dizer com isso. Poderíamos dizer vers une architecture, mas essa era a forma de Le Corbusier. Apenas dizemos Close, Closer. Realmente não dizemos “o quê”, ou “porquê”, ou “quando”. Realmente não sabemos. Assim afirmamos uma posição que equivale a dizer que a prática arquitectónica está muito para além do contexto edificado, existe noutros formatos e noutras formas que devem ser interrogadas, e que, na verdade, são muito mais interessantes como experiência e como tema para o visitante absorver e observar. Pensamos que não estamos aqui para dar uma resposta…
J–A Encaras esta proposta como uma espécie de manifesto?
Beatrice Fiz uma conferência em Dublin onde fui apresentada por um amigo, o Andrew Griffin, desta forma: ele está ansioso por vir a Lisboa porque a Trienal vai ser o meu manifesto de arquitectura. É importante ter uma opinião e é importante ter uma posição. Não faz muito sentido montar uma exposição, a não ser que se tenha uma preocupação específica.
J–A Sim, mas é como uma faca de dois gumes, aproximas-te cada vez mais e mais de uma prática arquitectónica cada vez mais ampla.
Beatrice Exactamente.
J–A É uma inversão muito séria. É provavelmente por isso que as pessoas têm de a enfrentar.
Manuel O programa irá abordar a arquitectura de uma forma muito mais fácil para o público, vai aproximar o público da arquitectura.
J–A Todo o público?
Manuel Creio que todo o público. A grande mudança nesta terceira edição é que vamos estar mais perto de todos, em vez de apenas do público fidelizado – as pessoas não entendem o que é arquitectura porque não entendem desenhos de arquitectura.
J–A O programa inclui formas construídas?
Beatrice Mas porque é que precisam de formas construídas? Se quiserem que as pessoas visitem arquitectura podemos dizer-lhes que vejam algumas obras do Siza. São arquitectura, não são uma exposição de arquitectura. A ideia de exibir uma coisa que existe noutro lugar sob uma forma plana é, realmente, uma má ideia. Portanto, se o pior cenário é perdermos as pessoas que gostam de ver essas coisas… elas podem ir vê-las em qualquer outro museu de arquitectura do mundo.
CRISE
J–A As propostas apresentadas ao concurso Crisis Buster e as respostas ao programa para as universidades convergiram com as vossas expectativas?
Beatrice Ficámos encantados. Honestamente, para o Crisis Buster ficámos incrivelmente felizes com a resposta. A qualidade das propostas foi tão alta, tão séria e tão bem concebida… enquadraram tão bem a nossa ambição para este projecto, que estamos a tentar financiar mais propostas. Esperemos que a maioria delas se realize. Não só aquelas que conseguimos financiar, mas também outras, de pessoas que estão a tentar encontrar formas alternativas de financiamento ou realização. Também sei de equipas que desfrutaram apenas do processo crítico e reflexivo sobre o tema. Como concurso, é muito mais recompensador do que “Consegue projectar uma casa?” Porque pode projectar-se uma casa para alguém, mas nunca se projectará uma casa para alguém como se projecta num concurso.
Com o projecto “Universidades” aconteceu o mesmo. Não queria que concorressem apenas estudantes de arquitectura, por isso tivemos designers gráficos a trabalhar com arquitectos, com designers de produto, etc., projectando em interacção, o que corresponde exactamente ao que eu queria. O que me parece efectivamente interessante são essas relações, uma vez que a arquitectura não é um campo profissional isolado. As pessoas têm de colaborar e compartilhar ideias.
No que toca aos projectos associados, fiquei bastante surpreendida com a quantidade de apoio que tivemos. Basicamente é como dizer: “Pessoal, temos esta ideia. Acreditamos que outras pessoas estão interessadas e têm ideias semelhantes, mas não podemos apoiá-las. Se você tem um espaço ou uma ideia e consegue financiá-la, junte-se a nós como projecto associado e incluímos o seu projecto no nosso programa.” Tivemos cerca de cento e cinquenta propostas. E todas excelentes.
Manuel Mais uma vez, é outra via para alcançar a ambição internacional desta Trienal de Arquitectura de Lisboa, porque os projectos associados podem acontecer em qualquer lugar. Podemos ter um projecto associado a acontecer no Rio de Janeiro ou em Buenos Aires…
J–A Há muitos artistas a desenvolver estes projectos…
Beatrice Sim!
Manuel Isto faz que todos falem e pensem sobre arquitectura, não só os arquitectos. É por isso que se discute frequentemente sobre se Close, Closer é uma trienal de arquitectura ou não. Ou, “onde está a arquitectura?”, como já nos perguntaram.
Beatrice Mas também: “o que é”, ou “para que serve uma conferência de arquitectura”? É um diálogo profissional na sua relação com a indústria? Ou será sobre as pessoas que têm de lidar com as consequências da arquitectura contemporânea? Creio que não temos de optar, que podemos encontrar uma forma de alcançar ambos.
ENSAIO CURATORIAL
J–A A figura do curador profissional está intimamente ligada à profunda mudança na prática da arquitectura. Há um agente específico para conduzir a arquitectura como uma prática cultural que acaba por ter um papel importante na reestruturação daquilo a que podemos chamar prática.
Beatrice Com certeza. No passado, foi muito frequente terem sido arquitectos os responsáveis pelas exposições de arquitectura. Tens razão, há um incremento até na ideia do que deve ser um curador de arquitectura…
J–A O curador está a alargar o âmbito da arquitectura, porque é o que ele faz. Na essência, é o seu trabalho.
Beatrice Refiro-me também ao curador de arte… O papel do curador de arte mudou muito nos últimos cem anos, tornou-se tema de livros e teoria. Faz parte do papel do curador integrar, de alguma forma, os aspectos da comercialização, do mercado de arte e do mundo da arte. Na arte contemporânea, todas estas coisas interagem ininterruptamente, mas não na arquitectura. Creio que o que estamos a conseguir com a Trienal é a oportunidade de experimentar, e ver, o que significa fazer curadoria de exposições de arquitectura… Poderá ser apenas uma reavaliação do potencial das exposições de arquitectura como um “lugar de produção”, e não necessariamente um “lugar de discurso”. É um lugar para fazer coisas acontecer, não para discutir coisas que já aconteceram no passado.
J–A Como vês Portugal como contexto para realizar essa experiência?
Beatrice Um argumento é ser possível fazer isso em qualquer lugar. Simplesmente aconteceu sermos escolhidos! Portanto, vocês tiveram a coragem e a vontade de experimentar. Mas não é só isso: estamos a trabalhar num contexto particular de crise, de desemprego, de reavaliação do que fazer enquanto jovens arquitectos, e também das oportunidades para diferentes tipos de trabalho ou colaboração, de formas alternativas na prática arquitectónica, e mesmo na avaliação da relação entre cliente e arquitecto. Torna-se bastante interessante experimentar neste contexto, onde é necessária uma nova conversa.
J–A Creio que vai haver uma redefinição completa do que é um arquitecto, ou daquilo que um arquitecto faz, ou do papel da arquitectura. Mas não se vislumbra um novo horizonte. Está tudo muito desfocado… A maioria acredita que estaremos a fazer coisas que, de uma forma ou de outra, serão reconhecidas como arquitectura… Que tipo de transformação estás a propor para a arquitectura?
Para uma geração mais velha, existe uma preocupação séria de que, num momento de crise, se olharmos unicamente para a frente, em vez de olharmos para a frente e para trás, haverá um corte e quebrar-se-á a transmissão do conhecimento profissional. Assim, a arquitectura entendida como uma forma colectiva de pensamento que tem vindo a evoluir, bem como a transmissão desse mesmo conhecimento, poderá parar. Sinceramente, creio que as pessoas empenhadas na mudança não estão menos preocupadas com a problemática da descontinuidade. Provavelmente, se perdermos de vista esta imagem mais ou menos consensual da arquitectura, daqui a dez anos, quando houver de novo trabalho para fazer, não haverá quem o consiga realizar.
Beatrice Creio que não estamos a anular a arquitectura. O que estamos é a falar de outro género de arquitectura. As pessoas têm medo e, quando se tem medo, reage-se de forma estranha. Mas lá por estarmos alinhados de outra forma, não quer dizer que estejamos a falar de outra coisa. É apenas uma exposição que acontece durante três meses e que apenas não aborda uma coisa. Posso garantir que na Suíça, na Alemanha, noutros lugares, também estão a falar sobre edifícios, porque nesses países estão a construir. Aqui não se está a construir… então, o que se está a fazer? Que outras coisas podemos fazer? Que outras coisas é que a prática da arquitectura envolve? Na verdade é um tema super interessante, e permite fazer uma grande exposição. Afinal de contas, é esse o nosso trabalho.
J–A Na década de 1980 Beatriz Colomina reclamou que a definição moderna de arquitectura dependia dos seus meios de comunicação e que a prática compreendeu essa estrutura e moveu-se através dela. Isso originou a imagem da reprodução arquitectónica do projecto moderno. Não há arquitectura sem a sua reprodução e sem a sua circulação cultural, ou produção cultural e reprodução. Continuo a pensar que essa não foi a única mudança. Esta exposição parece não ter como alvo outro público. O que quer é suscitar outra interacção com um público específico, tanto no discurso como na arquitectura.
Manuel Creio que o que realmente interessa à Trienal é a forma como vai ser capaz de criar um novo público, não só para as exposições de arquitectura, mas também para a própria arquitectura e para os arquitectos. A maioria das pessoas vê a arquitectura como uma coisa que não consegue pagar, ou a que não consegue aceder. De repente, vão ver exposições que não têm aqueles desenhos ou maquetas e pensam: “Oh! Afinal a arquitectura não é só aquilo. Talvez eu consiga interagir com estas novas formas. Eu conheço esta linguagem, estou familiarizado com este género de coisas.” Encaro esta terceira edição como uma oportunidade para criar e ampliar o público das exposições de arquitectura. Talvez a próxima exposição de arquitectura, eventualmente mais convencional, tenha um público muito mais vasto.
J–A Parece que estão a fazer uma espécie de experiência.
Beatrice É uma experiência e um ensaio. Sim, é ambos.
O PROGRAMA
J–A O fórum New Publics é particularmente interessante. Poderias falar um pouco sobre ele?
Beatrice O New Publics é um programa com curadoria de José Esparza, que vive na Cidade do México e cuja investigação e prática se foca no potencial do pensamento arquitectónico encarnado em políticos, corporizado em políticas públicas, consagrado por acções e ideias, ou o que quer que isso signifique na sua relação com a lei e com as políticas urbanas. O programa está dividido em diferentes formas de acção, todas balizadas pelo desempenho social e cívico da arquitectura. Algumas dessas acções serão orientadas por arquitectos contemporâneos. Outras, por outro tipo de actores, como sociólogos ou geógrafos. É uma secção muito importante no nosso programa, porque se trata do nosso fórum público. E não vai ser na Aula Magna, vai ser na Praça da Figueira, num espaço público!
J–A A Trienal é uma associação privada sem fins lucrativos. Como é que conseguem angariar financiamento para garantir este novo público?
Manuel É uma tarefa difícil, trata-se de explicar o projecto a possíveis patrocinadores, públicos ou privados.
Beatrice As pessoas querem alinhar-se connosco, acreditam que representamos algo que também interessa à sua marca ou negócio, como, por exemplo, o “futuro da prática arquitectónica”. E há, é claro, um imenso receio acerca disso, do que está a acontecer, o que também é muito interessante.
Manuel Temos tido um grande apoio daqueles que realmente acreditam nestas novas formas de explicar ou aproximar o público da arquitectura, explicando-a de uma maneira diferente. E muitos querem fazer parte disto; é um bom momento para se associarem.
J–A O que é o Institute Effect?
Beatrice Neste projecto interessa-nos essa abordagem que considera a difusão da cultura arquitectónica como uma forma válida e relevante de praticar arquitectura. O Institute Effect é dirigido às instituições de arquitectura. Convidámos aquelas cujo trabalho acreditamos – pelas suas exposições, publicações, encomendas, pela sua prática enquanto instituição – ter contribuído para transformar a arquitectura. Queremos mostrar que a arquitectura não diz apenas respeito a políticas, tecnologia ou arte, mas é também feita com instituições próprias. E aceitaram o convite acreditaram no nosso projecto. Não nos pagam para fazer parte dele, nem nós lhes pagamos para o integrarem. Todas vão responder ao programa de Close, Closer, e vão incluí-lo no seu próprio programa durante a semana em que estão no Museu do Design. Cada instituição vai preencher uma semana com oficinas, exibição de filmes, conferências ou debates públicos, instalações… em consonância com a sua prática quotidiana.
J–A Têm de informar o público sobre o que vai acontecer em cada semana.
Beatrice Estamos a pensar referir o programa como uma sucessão de acontecimentos. Não se trata apenas de uma exposição, vai ser, literalmente, uma temporada de eventos, conferências, acções, oficinas… Estamos, de alguma forma, a extravasar os moldes característicos de expor, e a caminhar em direcção a outra coisa.
Manuel Será um grande desafio divulgar tudo o que vamos fazer nestes três meses.
Beatrice A Trienal não vai acontecer apenas no dia da inauguração, vai acontecendo ao longo do tempo. Podemos ir a cada uma das exposições três ou quatro vezes, com a garantia de que nunca serão iguais. Pode-se ir jantar à exposição The Real and Other Fictions e pode-se participar numa oficina do Institute Effect sempre se quiser…
J–A Podemos mesmo ir jantar?
Beatrice Sim, só têm de marcar.
J–A E pode dormir-se lá?
Beatrice Pode dormir-se cerca de 45 minutos. Será mais como uma sesta.
J–A Close, Closer tem muitas geografias, tem um mapa geopolítico e intelectual muito complexo. Haverá coisas que se transformam ao longo do tempo, outras com itinerância, outras que simplesmente acontecem. Existe uma espécie de linha mágica do tempo para lidar com todas estas coisas? Existe em algum lugar um diagrama secreto?
Beatrice Quem me dera ter um diagrama secreto para explicar. Parece-me importante examinar o tempo da Trienal, porque existem itens muito diferentes que é necessário absorver. Por exemplo, será necessário ler os e-books que vamos publicar. E vai ser necessário escolher o dia em que se visita a Trienal. Ou seja, há tantos ritmos diferentes e momentos que serão projectados no decorrer do programa… O Manuel descreveu-o como uma rede por entre redes. O programa tem uma complexidade que é intencional, não queremos que as pessoas sintam haver apenas um nível de acesso. Por exemplo, em The Real and Other Fictions os visitantes vão encontrar uma exposição performativa, que se realiza a cada momento. Que podemos ocupar e à qual podemos regressar. Pode-se ir lá comer, dormir, ir a uma embaixada, a uma vernissage, a um parlamento ou participar numa discussão. Coisas que acontecem e que podem ser apreciadas de uma forma muito humana: “Eu vou jantar nesta exposição!” A forma como este “jantar expositivo” foi concebido tem que ver com a ocupação do palácio no século xvii, somos levados a comer de uma determinada maneira, os alimentos foram confeccionados de tal modo que podemos encontrar mais e mais conteúdos expositivos.
É por isso que discordo com quem pensa não ser possível ter uma conversa racional acerca de um determinado assunto que também se destina a ser público. As salas da exposição The Real and Other Fictions no Carpe Diem vão demonstrar isso mesmo. E isso também acontece em cada região do Future Perfect, que foi a forma como Liam Young desenhou essa exposição. Vamos poder visitar uma floresta desenhada por Revital Cohen e Tuur Van Balen. Além disso, existe um ecossistema projectado! No futuro, talvez sejamos capazes de projectar as nossas próprias plantas da mesma forma que projectamos as nossas mesas. Talvez seja interessante ter capacidade de projectar uma planta para resolver um problema social… como se o projecto fosse produzido a partir de um texto escrito por um autor de ficção científica.
Há um grande envolvimento e dedicação em cada projecto – já estamos a trabalhar há 18 meses.
J–A Isso é ter uma grande fé no design. Ao ponto de confiar nele para penetrar em muitos outros níveis, tornando-o um instrumento para o progresso.
Beatrice Gosto da ideia de “fé no design”. Acreditamos poder fazer algo particular que é conseguido através desse meio.
‘CLOSE, CLOSER TO PORTUGAL’
J–A Como vês a arquitectura portuguesa agora, no contexto europeu e internacional?
Beatrice Penso que, internacionalmente, a arquitectura portuguesa vai ser sempre reverenciada. É famosa. Penso que se manterá assim porque os edifícios estarão sempre cá. Siza será sempre português. É um legado que será sempre muito importante para o país. Projectos como o Teatro Thalia, que inaugurou recentemente, são finalistas em prémios internacionais e divulgados em cerimónias oficiais.
As pessoas vêem Portugal como um lugar onde a arquitectura acontece. Creio que estão cientes do problema da quantidade de arquitectos que estão a ser formados e da falta de emprego dessa geração. E também se pergunta o que será o futuro da arquitectura portuguesa. Mas este não é o problema que estamos a discutir na Trienal. Não é nossa intenção resolver o futuro da prática arquitectónica em Portugal.
Internacionalmente, creio que as pessoas estão muito conscientes do que somos… haverá imensa gente a querer vir a Lisboa. E vão pensar: “Este lugar é incrível; vou mudar-me para cá.” Portanto, estamos a fazer uma grande campanha promocional para a arquitectura portuguesa.
Manuel Trienal de Arquitectura de Lisboa: se esta expressão, que inclui “Arquitectura” e “Lisboa”, rodar pelo mundo, estamos a chamar a atenção para este lugar. Só isso já é uma enorme promoção, já promove uma enorme discussão sobre o país e o assunto.
Beatrice Recebi um e-mail de uma jornalista japonesa, de quem nunca tinha ouvido falar, a perguntar qual seria o melhor momento para vir, porque queria reservar voo. Quando eles estiverem aqui também poderão visitar o Porto e fazer algum turismo de arquitectura. Sabem como é: uma vez que trouxermos as pessoas até cá, já está meia batalha ganha.
Este artigo foi publicado no J-A 248, Set-Dez 2013, pg. 224 – 231.
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