J–A conversa com Renata Holod e Martha Thorne
Por ocasião da cerimónia de entrega do Prémio Aga Khan para a Arquitectura de 2013, realizada em Lisboa no passado mês de Setembro, conversámos com Renata Holod, directora executiva do primeiro ciclo do Prémio Aga Khan entre 1978 e 1980, e com Martha Thorne, directora executiva do Prémio Pritzker de Arquitectura. Procurámos saber, na opinião de quem os concebe e conduz, em que medida os prémios de arquitectura podem ser úteis, e para quem, partindo do pressuposto de que a cultura arquitectónica poderá ter uma palavra a dizer nos processos de transformação urbana em curso.
***
PRÉMIOS PARA QUÊ?
J–A Este ano, a cerimónia do Prémio Aga Khan teve lugar em Lisboa. Eis uma boa oportunidade de abordar o tema dos prémios de arquitectura. Em Portugal, Álvaro Siza e Eduardo Souto de Moura são as figuras de proa entre os galardoados. No entanto, a geração mais jovem de arquitectos, na sua actividade quotidiana, não parece retirar grande benefício deste sistema de galardões. Gostaríamos que traçassem uma breve história destes dois prémios, mas que referissem também os respectivos problemas e potencialidades, bem como a sua situação e o seu enquadramento actuais.
Renata Holod É preciso explicar, antes de mais nada, que eu não sou arquitecta. Sou historiadora de arquitectura, o que não deixa de ser uma diferença importante. Era professora-assistente na Universidade da Pensilvânia quando recebi um convite para me reunir com Sua Alteza, o Aga Kahn, e debater a possibilidade de pôr em prática o seu projecto de um prémio no domínio da arquitectura. Durante o nosso encontro, ele explicou-me que tinha em mãos grandes projectos imobiliários, e que sentia dificuldades em transmitir claramente aos arquitectos o que pretendia. Disse-me que tivera a ideia de criar uma espécie de observatório dos edifícios construídos em todo o mundo islâmico. Isto foi em 1977, e ele queria atribuir o prémio pela primeira vez no Outono de 1980. Na companhia de Hasan-Uddin Khan, fiz uma série de viagens a Marrocos, à Argélia, à Tunísia, à Nigéria, ao Egipto e à Turquia. Em relação a cada uma destas regiões, elaborámos relatórios e tentámos identificar pessoas que nos parecessem interessantes, nomeadamente bons criadores e críticos. Começámos a estabelecer uma rede de contactos. Não me canso de sublinhar que esta maneira de proceder fugia completamente à abordagem arquitectónica típica daquela época. Este género de informação, pura e simplesmente, não circulava. Juntamente com um comité orientador, organizámos seminários acerca de uma gama variada de temas. Destes, emergiram os critérios para definir as diversas categorias do prémio. O aspecto mais importante a reter é a vastidão do seu âmbito. O prémio não pretende pôr em relevo somente um determinado projecto, mas sim o modo como um ambiente construído se forma, e o leque variado de iniciativas que contribuem para isso. Desde um determinado projecto até uma legislação inovadora, passando pela reutilização de velhas estruturas. Na verdade, é muito difícil descrever o Prémio Aga Khan somente como um prémio de arquitectura. Trata-se de um empreendimento cultural e educativo de alcance mais vasto. Deu origem ao “Programa Aga Khan de Arquitectura Islâmica”, em Harvard e no MIT, ao “Programa de Cidades Históricas” e a outras iniciativas. Neste momento, compõe-se de cinco sectores coordenados entre si. O prémio propriamente dito constitui a matriz onde tudo o resto assenta, porque se prolonga através do tempo e é moldado de forma dinâmica por diferentes correntes. Os sectores abrangem diversos géneros de temáticas, encaradas enquanto estímulos para interpelar as pessoas que trabalham no domínio do ambiente construído. Quer se trate de entidades governamentais quer de indivíduos, o objectivo é fazê-los reflectir acerca do que está a acontecer e, em seguida, apresentar-lhes diferentes modelos passíveis de sugerir soluções.
J–A É interessante comparar o Prémio Aga Khan com o Prémio Pritzker, uma vez que um e outro foram criados aproximadamente na mesma época. À escala mediática globalizada dos nossos dias, o Prémio Pritzker tem grande prestígio como porta-bandeira da autoria em arquitectura e do louvor da obra de um determinado arquitecto. Nos tempos que correm, é muito fácil associá-lo à ideia superficial de starchitecture, o arquitecto-vedeta. A autoria, porém, não deixa de ser um aspecto fundamental da cultura, e funciona como um sismógrafo. Alguns dos galardoados ainda não eram nomes conhecidos do grande público quando receberam o prémio, tais como Frank Gehry ou Álvaro Siza. Premiá-los constituiu uma decisão ousada, que fez história.
Martha Thorne Parece-me acertadodizer que, em relação a certas pessoas, o Prémio Pritzker fez história. Permitiu fazer incidir os holofotes sobre certos arquitectos cuja obra não era devidamente reconhecida pelas correntes dominantes, dando um novo impulso às suas teses. Ao olhar para diferentes prémios, temos de procurar entender quais os objectivos de cada um deles. Como se propõem cumpri-los? Até que ponto são bem-sucedidos? Em que aspectos podem melhorar? Devemos analisar cada prémio separadamente, porque cada qual possui especificidades genuínas. É certo que nenhum prémio consegue fazer tudo, pois os prémios pretendem “divulgar” a arquitectura, no sentido mais lato do termo. E não me refiro à arquitectura somente como criação artística, mas antes como contributo para o ambiente construído, que é muito complexo. O Prémio Pritzker teve o seu início em 1979, enquanto esforço filantrópico por parte da família Pritzker. Quando Carlton Smith e J. Carlton Brown sondaram Mr. e Mrs. Jay Pritzker, propondo-lhes que criassem um prémio, o casal achou que se tratava de um domínio que valia a pena explorar, porque a arquitectura não merecia da parte do grande público o mesmo reconhecimento que as artes ou outras vertentes da cultura.
J–A Essa avaliação referia-se essencialmente à realidade americana?
Martha Era esse o contexto em que eles estavam inseridos. Tanto quanto me recordo, na Europa era também difícil encontrar jornais ou revistas de cariz generalista que dedicassem à arquitectura uma atenção constante. A família Pritzker sentia que a arquitectura não era objecto de uma cobertura tão ampla como as outras artes. Criaram o prémio para divulgar a arquitectura junto de um público mais vasto, para promover um discurso acerca da excelência e para dar o exemplo, mas não enquanto caminho rígido que os outros deveriam seguir. Os objectivos do prémio e a sua matriz organizativa são muito alargados. A cada ano que passa, de certo modo o júri reinterpreta ou acrescenta um novo estrato aos objectivos originais. Nesse sentido, o prémio é flexível e bem-sucedido.
J–A Há uma certa magia, ou sedução, num prémio que concentra a ideia de excelência numa única figura. Esta abordagem, no entanto, acaba por excluir outras alternativas.
Martha Não há dúvida de que as questões da autoria, do trabalho colaborativo e dos “arquitectos-vedetas” são hoje objecto de grande discussão. Trabalhei durante dez anos como conservadora no departamento de arquitectura do Art Institute of Chicago. Recordo-me de que as exposições de maior êxito eram aquelas em que conseguíamos estabelecer uma ligação com os visitantes. Podemos organizar uma exposição absolutamente excepcional, mas, se os visitantes que a percorrem não sentirem afinidade com os conteúdos, o resultado será um fracasso. Se quisermos estabelecer um paralelismo com o Prémio Pritzker, para o bem e para o mal, é mais fácil dizermos ao público que um dado arquitecto ou um grupo de arquitectos criou um conjunto de edifícios excepcionais. Isto acrescenta um elemento pessoal capaz de suscitar no público uma certa afinidade. Os galardoados são sempre homens muito talentosos, mestres no seu ofício, mas não pretendemos ficar-nos por aí −queremos, isso sim, transmitir uma mensagem mais profunda acerca dos edifícios por eles desenhados e acerca das razões que os tornam importantes. Há no prémio, sem dúvida, uma componente de autoria. No entanto, talvez tenha mais que ver com a liderança, com a criatividade e com o talento. Por outro lado, creio que o prémio reconhece também que a arquitectura é um ofício extremamente árduo e vagaroso. Se um dado indivíduo consegue, ao longo de um período de vários anos, criar uma obra construída, restrita ou vasta, que espelhe a arte da arquitectura e constitua um contributo para a humanidade, então essa pessoa é um exemplo para os outros e merece ser alvo de reconhecimento.
J–A A América parece ter sido o público inicial do prémio. Isto confere ainda maior importância a algumas das decisões tomadas pelo júri. Quando foram premiados, Álvaro Siza ou Eduardo Souto de Moura não eram figuras conhecidas do grande público americano.
Martha O júri é um colectivo de indivíduos, cuja composição se vai alterando lentamente com o passar do tempo. Os elementos do júri tomam as decisões o melhor possível, baseando-se nos seus conhecimentos, na sua experiência, na sua pesquisa e nas visitas que levam a cabo a edifícios. Tenho notado uma tendência de mudança no prémio, que se tem vindo a afastar dos nomes mais consensuais, provenientes dos países mais desenvolvidos, abarcando agora um leque mais amplo de nomeados. A tecnologia mudou bastante, e hoje conhecemos e compreendemos melhor o mundo inteiro, permitindo ao júri interagir com outras realidades. Dispomos hoje de mais informação do que sucedia no início dos anos 80. Naquele tempo, a circulação de revistas era relativamente limitada. Com a Internet, temos acesso a um imenso caudal de informação.
Renata No âmbito do Prémio Aga Khan, estamos a levar a cabo um inquérito que abrange vários países e vários grupos demográficos, pedindo às pessoas que indiquem os edifícios contemporâneos mais importantes do mundo. É claro que há diferenças regionais, mas os resultados são fascinantes. No Cairo, as pessoas talvez indiquem o Parque Al-Azhar, porque se situa no próprio Cairo e alterou o microclima da zona central da cidade, mas também são capazes de referir o High Line, em Nova Iorque. Se fizermos a mesma pergunta em Kuala Lumpur, as pessoas não referem o Parque Al-Azhar, mas tornam a indicar o High Line. O que queremos entender são os motivos para este género de respostas. Note-se que este inquérito foi realizado entre arquitectos e estudantes de arquitectura, não entre cidadãos anónimos.
J–A Provavelmente, isso relaciona-se com a tecnologia e com as circunstâncias que transformam a percepção de um determinado facto cultural. No entanto, não sabemos quais seriam as respostas dentro de dois anos. Provavelmente, o High Line seria substituído por outra construção qualquer.
Renata Estamos a tentar compreender a natureza dessa percepção. Imaginemos que aplicávamos um inquérito do mesmo género aos leitores da vossa revista, para avaliar o respectivo nível de conhecimentos. Se lhes pedissem uma lista de edifícios contemporâneos famosos, talvez nem todos soubessem os nomes de todos os arquitectos que os desenharam. Apesar disso, conhecem o projecto. O High Line, em Nova Iorque, e o Memorial do Holocausto, em Berlim, surgiam constantemente nas respostas, em todos os lugares onde aplicámos o inquérito. Quais são os mecanismos graças aos quais esta informação se difunde, independentemente da corrente arquitectónica que moldou estas pessoas?
Martha Penso que tem que ver com a globalização e com a questão da educação. Por vezes, os arquitectos têm uma mensagem extremamente restrita, e usam um vocabulário que torna muito difícil comunicar com outras pessoas fora do campo da arquitectura. O que é que torna a arquitectura valiosa para a sociedade? A minha esperança, no caso do Prémio Pritzker, é que este consiga divulgar os importantes contributos que a arquitectura teve nas cidades, na qualidade de vida, na sustentabilidade, na resposta aos grandes desafios do habitat humano, etc. Trata-se de promover o talento, o saber e um ofício que a sociedade deveria valorizar e respeitar ainda mais. Vivemos numa época em que é imperioso alargarmos a nossa definição de arquitectura. Temos de a tornar mais relevante, mais próxima do público. E espero que o público a valorize ainda mais, porque estamos num momento crucial da sua evolução.
MARCOS DE REFERÊNCIA
J–A O Prémio Pritzker e o Prémio Aga Khan são encarados como marcos fidedignos de um desígnio para a arquitectura, porque se mantiveram fiéis à sua missão original. Isto torna-se claro quando os comparamos com galardões atribuídos em certames como a Bienal de Veneza. Aí, sente-se a pressão para acompanhar as tendências mais recentes, cada vez mais vertiginosas devido à tecnologia e a outros factores, como o interesse comercial. É muito mais comum, hoje em dia, questionar-se o formato e a legitimidade destes festivais.
Renata Os prémios Pritzker e Aga Khan têm um âmbito muito abrangente. Como tal, podem também adaptar-se a uma época ou a um quadro de referência concretos. O elemento-chave, em ambos, é o facto de se destinarem a projectos que foram efectivamente construídos e se revelaram utilizáveis. O modelo em causa é a arquitectura totalmente funcional, a arquitectura posta em prática, por oposição a ideias que poderão ser fabulosas, mas que não chegaram a ser construídas. No caso do Prémio Aga Khan, por exemplo, há também o reconhecimento de que é necessário envolver toda uma aldeia ou comunidade para concretizar um projecto de grandes dimensões. Todos os actores-chave na concretização de um projecto são devidamente reconhecidos.
Martha Penso que é positivo reconhecer as muitas facetas de um projecto, mas, por outro lado, isso dificulta a sua divulgação. Imaginemos que uma equipa multidisciplinar concebe um projecto incrível; será que aquele edifício poderia ter sido construído sob a direcção de um arquitecto diferente? Talvez, mas duvido. Há pessoas fulcrais no processo de concepção e construção, e julgo que podemos e devemos identificá-las. Parece-me que esta é a maior diferença entre os dois prémios: o Pritzker procura reconhecer o talento, a criatividade e o papel de uma dada pessoa ou pessoas. Além disso, tenta ser um prémio internacional, que não se baseia em nenhuma crença religiosa, nenhum estilo particular, nenhum critério geográfico. Procura ter um carácter genuinamente aberto.
Renata O Prémio Pritzker e o Prémio Aga Khan possuem um objectivo complexo, devido ao seu âmbito muito vasto. Tendo em conta a atmosfera actual, o que é que tem mais hipóteses de perdurar numa era em que a atenção é tão efémera? Será a história dos feitos de uma pessoa ou de um gabinete de arquitectura ao longo do tempo? Ou, antes, um projecto que é levado à prática – representando um processo colectivo concreto – num momento preciso? No fim de contas, ambos os prémios possuem um propósito educativo extremamente amplo. É por isso que colaboramos neles. Sendo assim, e sabendo que a nossa audiência inclui diferentes receptores, quais os meios a que recorremos para estabelecer a ponte com estes receptores?
Martha Eis uma questão muito importante, já que ambos os prémios o fazem com grande eficiência. O Prémio Aga Khan veicula uma mensagem complexa, dizendo às pessoas que projectos dos mais variados géneros – desde intervenções na paisagem social até habitação a preços acessíveis – são merecedores deste galardão. Esta mensagem complexa é depois reforçada e divulgada em diferentes lugares por meio de simpósios, bases de dados e websites. O Prémio Pritzker salienta o nome de certos indivíduos e a sua obra, na esperança de que isto tenha um efeito disseminador. Temos em vista fazer mais ainda através de simpósios, da nossa página na Internet e de outros géneros de actividades educativas. Num e noutro casos, porém, a mensagem tem de ser diferente, porque os prémios são diferentes um do outro.
J–A Seja como for, ambos criam precedentes que são quase canónicos. Há uma responsabilidade que vai além da escolha feita para uma única edição. Criou-se na história destes prémios uma narrativa que procura fazer sentido. Não obstante um e outro terem uma vasta audiência e grande acolhimento junto do público, os responsáveis pelos prémios tentam aperfeiçoá-los o mais possível. Fazem-no em nome da arquitectura.
Martha Estou de acordo. Quando olhamos para a história da arquitectura e olhamos para os nomes dos vencedores do Prémio Pritzker, os resultados são bastante coincidentes. A minha experiência desde 2005 diz-me que o júri não se preocupa com o que o público espera ou irá dizer. Os elementos do júri não falam acerca disso, nem acerca da localização geográfica dos projectos. Discutem, antes de mais nada, questões arquitectónicas. Ao fazer uma escolha, o júri sabe que será chamado a responder por ela durante vários anos. O processo possui esta pressão acrescida, que é um encorajamento aos jurados para que sejam tão ponderados e rigorosos quanto possível nas suas decisões. Uma vez anunciado, o resultado abre-se ao debate público. Quando as pessoas discordam da decisão do júri, comunicam-nos de imediato essa discordância, o que é também óptimo.
CULTURA ARQUITECTÓNICA
Renata Regressando ao inquérito que estamos a realizar, se fizermos as mesmas perguntas a pessoas oriundas de diferentes zonas culturais, obtemos diferentes respostas. Em certa medida, partimos do pressuposto de que a subcultura da arquitectura ligaria toda a gente no mundo inteiro. O grau de comunicação, de interacção, não é tão grande como esperaríamos.
J–A O Prémio Aga Khan tem raízes sólidas em questões de fé religiosa. Esta é apresentada como um valor sincrético, ligando as pessoas e os recursos nos quatro cantos do mundo. Há a ideia de que algo se difunde, relacionado com a espiritualidade e a cultura, por meio da arquitectura.
Renata É também o resultado de uma reavaliação constante. Embora o prémio só seja atribuído de três em três anos, ao olharmos para a respectiva história, vemos que há uma série de seminários organizados de forma anual. Se analisarmos os temas debatidos, vemos que há um processo de reflexão profunda, numa tentativa de articular diferentes questões. Isto fez parte do programa desde o seu início, e constituiu o seu genuíno processo reflexivo.
J–A Nos dias de hoje, não é claro de que modo a arquitectura poderá criar uma síntese. Há imensos conhecimentos produzidos nos domínios da história e da teoria, embora não necessariamente relacionados entre si. Por outro lado, devido à tecnologia existente, parte-se do princípio de que todos têm acesso à informação. No entanto, isto pode também ser um sistema gerador de esquecimento, mais do que de memória.
Renata Sim, esqueci-me de me lembrar disto, porque posso sempre procurar na Internet… Mas não é verdade! Trata-se de questões verdadeiramente complexas, e ainda bem que decidiram abordá-las. Que sentido faz atribuir um prémio, qualquer que ele seja? Quantos objectivos se espera que o prémio cumpra? Em teoria, pretende salientar algo e dizer às pessoas que é a isso que devem prestar atenção e, no caso de elas corresponderem, é-lhes disponibilizada a história completa de um projecto. O mais importante, no caso do Prémio Aga Khan, é que, para cada projecto incluído nos finalistas, há uma súmula de informação válida.
J–A É um processo que gera informação pormenorizada de cariz técnico. Esta informação não é recolhida a posteriori, mas sim de antemão, por meio de recensões externas. Estas recensões, por sua vez, geram um arquivo e uma fonte de conhecimento acerca da arquitectura.
Renata O nosso fito foi montar uma estrutura dupla, porque há uma lista de projectos finalistas, que depois são analisados in loco. Os críticos que fazem a recensão in loco preparam-se cuidadosamente, e têm instruções bem precisas. Vão até ao local do projecto e tentam compreender as condições no terreno. Embora extremamente difícil de comunicar em chavões e frases bombásticas, este género de informação fica ao dispor de todos.
J–A O Prémio Aga Khan organizou uma exposição acerca da presente edição, entrevistando vários arquitectos portugueses. Foi-lhes pedido que comentassem os projectos finalistas. Em muitos depoimentos, os arquitectos sublinhavam também a importância do processo de atribuição do prémio em si. As súmulas acerca dos projectos finalistas são muito esclarecedoras, muito bem estruturadas.
Renata Eis o género de informação acrescida que não produz resultados imediatos, por isso não parece sedutora nem vistosa. Mas é uma ferramenta para construir uma cultura arquitectónica sólida. Quanto mais pessoas reconhecerem que essas súmulas podem ser uma fonte importante de informação, maior será a tendência para o seu uso se generalizar.
J–A Nos nossos dias, há cada vez mais prémios de arquitectura, desde jantares selectos para angariação de fundos até às omnipresentes votações na Internet. No meio desta extraordinária diversidade, como é que os prémios podem encarar o seu próprio futuro, de modo a não perderem a sua relevância?
Martha Creio que o Prémio Pritzker de Arquitectura continuará a manter a sua estrutura de um júri independente, cujos membros viajam em grupo para analisarem por si mesmos as obras construídas. A relevância futura depende, em grande medida, do facto de o júri tomar ou não boas decisões. Sobre estes profissionais, extremamente competentes, aliás, recai grande parte da responsabilidade pelo sucesso do prémio. Qualquer prémio que pretenda perdurar tem também de estar atento às mudanças no terreno. Tem de procurar compreender o contexto em que a arquitectura opera, mas também possuir uma perspectiva de longo prazo, abstendo-se de procurar seguir as tendências do momento.
Este artigo foi publicado no J-A 249, Jan — Abr 2014, p. 310-315.
|
Lisboa, 6 de Setembro de 2013
Conversa conduzida por
André Tavares e
Diogo Seixas Lopes
Transcrição e edição de Ana Laureano Alves
Tradução de
Paulo Faria
|